EUA, 1877. O senhor Thomas Edison anuncia ter inventado o fonógrafo, primeira máquina que consegue gravar e também reproduzir vibrações sonoras de maneira mecânica. Mais impressionante do que ninguém ter pensado em fabricá-lo antes, só sua simplicidade: um cone acústico que capta o som é acoplado em uma fina membrana, cuja vibração provocada pelos estímulos sonoros coloca em movimento uma agulha que registra caráteres gráficos sobre um cilindro coberto com uma folha de estanho. Para reproduzir o som gravado, basta colocar sua agulha na posição inicial e fazê-la correr pelo sulco inscrito na superfície. A fala humana é transformada em traços mais ou menos profundos que são registrados e imortalizados em uma máquina falante.
Viena, 1895. O médico Sigmund Freud envia uma carta ao seu amigo Fliess em que demonstra estar entusiasmado por finalmente conseguir ajustar o entrosamento das engrenagens de sua máquina, que naquela altura parecia funcionar quase sozinha. Seu funcionamento é tão simples quanto o fonógrafo: quantidades de massa em movimento são recebidas por barreiras de contato e registradas sobre uma base anatômica fantasmática. As quantidades escoam e criam vias de facilitação, caminhos que são responsáveis por armazenar informações. Desde que o circuito da fala maquinal de Emma percorra certos caminhos, ocorrerá o efeito análogo à reprodução de pensamentos e sentimentos que outrora permaneceram esquecidos.
O sinal enviado da oficina de Edison cruza o Atlântico e é interceptado no consultório do Dr. Freud: eis que chegou ao fim a aventura do espírito, pois tornou-se letra, escrita e caráter, criando, assim, o a priori histórico para o nascimento da psicanálise. Contudo, o chamado aparelho psíquico sabe tão somente como transmitir e armazenar informação, ainda não aprendeu como processá-la visto que ainda esperava por outro paradigma no mundo técnico.
Hudson Andrade, Porto Alegre, 05 de setembro de 2022.